Artigo de Luiz Leitão: Baiano pela metade
Baiano pela metade
O governador paulista Geraldo Alckmin, nascido na cidade de Pindamonhangaba (SP), disse, em campanha à presidência da Republica no nordeste, que é “um pouco baiano”, repetindo uma bobagem dita pelo cacique do partido, o ex-presidente FHC, que, certa feita, disse ser meio mulato.
Se a campanha de Alckmin começa neste nível de hipocrisia, já se inicia muito mal, pois os políticos têm o vício de achar que sabem e devem dizer o que povo quer ouvir, e não o aquilo que realmente precisa escutar: que serão necessários sacrifícios, se possível e preferencialmente das classes dominantes, dos políticos, muito mais que do povo carente que sempre vota num grão de esperança que nem sempre frutifica.
Não é à toa que a minissérie JK (Juscelino Kubitscheck) da rede Globo de televisão, que narra a história do ex-presidente brasileiro, dono de incomparável carisma, candidato a ser resgatado como super-herói de um passado um tanto recente, tem feito sucesso. Juscelino fez Brasília, fez estradas, indústrias automobilísticas, tudo isso à custa da inauguração da inflação no Brasil.
O sucesso do seriado da TV Globo demonstra que as pessoas procuram desesperadamente por um líder que resgate o país da mediocridade política em que chafurda atualmente. Todos querem um líder, um salvador da pátria, de preferência que não os submeta a mais sacrifícios – o que não deixa de ser correto -, mas quem é este homem?
Definitivamente, não é Lula da Silva, tampouco os podres políticos do passado recentíssimo que vêm saboreando uma espécie de resgate nas pesquisas de intenção de voto, tipo Orestes Quércia, que praticamente destruiu financeiramente o Estado de São Paulo.
Geraldo Alckmin foi um bom vice de Mário Covas – que se vivo estivesse, sem dúvida seria o atual presidente da República, com altíssima probabilidade de ser reeleito. Teve pudor, demorou semanas para instalar-se na cadeira do governador do Estado após a prematura morte de Covas, tem conduzido o Estado com razoável destreza, excetuando-se a teimosia em manter no cargo seu arrogante secretário da Segurança Pública, Saulo Ramos.
É um candidato livre, em final de mandato, que disputa uma peleja com José Serra pela candidatura à presidência. Serra está impedido pela palavra empenhada e registrada em cartório de que, se eleito, permaneceria prefeito de São Paulo até o final do mandato, e hoje renega a promessa feita, desonra a palavra empenhada.
São muito poucas e pobres as opções de candidatos viáveis à presidência da República; talvez daí brote este sentimento nostálgico por JK, que foi e fez muito menos que Getúlio Vargas; as pessoas parecem se sentir órfãs de esperança, e até têm razão, dada a rarefação de opções que têm.
Do PT, evidentemente brotará como candidato natural, Lula da Silva; do PMDB, uma incógnita entre Roberto Requião, governador do Estado do Paraná, o messiânico Anthony Garotinho – ainda sob ameaça de cassação de direitos políticos pelo TSE - e o politicamente insignificante presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, que se acha muito, mas é tão arrogante que se torna um anão.
Sobra somente o vice-presidente José de Alencar, um neomessiânico, filiado ao PMR, o partido do “bispo” Edir Macedo e ninguém mais.
Talvez Alckmin seja uma boa opção, se cair na real e parar de dizer o que o povo quer ouvir, e passar a falar aquilo que ele precisa escutar. Quanto a Serra, que tenha a hombridade de honrar a palavra, dada por escrito e registrada em cartório. Se a sua vaidade superar a sua honra, estará dando um péssimo sinal e exemplo ao eleitorado e aos demais cidadãos.
Já aos deputados e senadores, vai ser difícil alguém conseguir galvanizar a confiança do eleitorado, depois do vexame do Mensalão, dos Correios, dos Bingos e da insepulta CPI do Banestado. E muito especialmente após o parcialíssimo julgamento do deputado Romeu Queiroz, réu confesso, absolvido por seus pares.
(*) Luiz Leitão
Articulista, Brasil
luizleitao@ebb.com.br
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